Felipe Miranda aponta escalada de risco com possíveis sanções dos EUA e sugere proteção via opções
O economista e sócio-fundador da Empiricus, Felipe Miranda, alertou em coluna publicada nesta segunda-feira (28) que a perspectiva de novas sanções norte-americanas contra autoridades brasileiras ampliou significativamente os prêmios de risco sobre os ativos do país.
Possíveis medidas de Washington
Segundo relatos da imprensa citados pelo analista, o governo dos Estados Unidos prepara-se para acionar a Lei Magnitsky contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). As punições poderiam incluir perda de vistos, bloqueio de contas nos EUA e, num cenário extremo, restrições a empresas que mantenham relações comerciais com os alvos das sanções.
Miranda acrescenta que, se a escalada avançar, o rompimento diplomático pode chegar à expulsão da embaixadora brasileira em Washington, agravando o impacto econômico além do estimado inicialmente para as atuais tarifas — entre 0,3 e 0,4 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB).
Efeitos econômicos esperados
Para o estrategista, uma deterioração no quadro levaria a forte desvalorização cambial, com possível overshooting, pressionando inflação, margens das empresas e companhias endividadas em dólar. Ele lembra que, apesar de a hipótese ainda ser considerada “evento de cauda”, os prêmios de risco já vêm se ampliando desde o anúncio do tarifaço norte-americano.
Recomendação: “seguros-catástrofe”
Diante do cenário incerto, Miranda defende a compra de opções de venda fora do dinheiro como forma de proteção. Para ele, o custo dessas apostas permanece “razoavelmente comportado” em comparação ao leque de resultados possíveis. O colunista prefere esse movimento à venda maciça de ativos brasileiros, notando que várias ações caíram mais de 10% desde os picos recentes sem sofrer efeito direto das tarifas.
Mercado acionário
O analista cita o exemplo do Itaú, que perdeu cerca de 10% de valor de mercado, mas que, em sua avaliação, não teve seu valor intrínseco reduzido na mesma proporção. Para investidores de longo prazo, afirma, os preços atuais podem representar oportunidade de compra.
Contexto político
Miranda discorda da interpretação de parte do mercado de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seria o principal beneficiado pela crise. Ele aponta um “isolamento crescente” do ex-presidente Jair Bolsonaro, citando pesquisa Genial/Quaest em que 12% dos entrevistados se declaram bolsonaristas e outros 22% dizem ser de direita, mas não bolsonaristas.

Essa configuração, segundo o colunista, poderia desidratar o clássico embate entre lulismo e bolsonarismo, abrindo espaço para alternativas políticas mais moderadas.
Perspectivas para ativos brasileiros
Miranda sustenta que, no médio e longo prazo, o case brasileiro permanece intacto. Se o conflito com os EUA se agravar, a piora econômica tende a reduzir a popularidade do governo, aumentando a probabilidade de um futuro governo mais fiscalista e pró-mercado — o que favoreceria a recuperação dos preços de ativos. Caso as tensões recuem, os atuais prêmios de risco devem se comprimir, também beneficiando as cotações.
Dólar sob escrutínio
O colunista recorda que o congelamento de reservas russas em 2022 já havia incentivado diversificação cambial global. Na visão dele, novas sanções unilaterais dos EUA contra o Brasil reforçariam esse movimento, enfraquecendo o dólar em termos relativos — cenário historicamente positivo para mercados emergentes. A combinação de menor atividade doméstica e aumento de incerteza, acrescenta, pode ainda antecipar cortes na Selic.
No encerramento do texto, Miranda aconselha investidores a “sentar na mão” e preparar-se para maior volatilidade, mantendo posições protegidas por instrumentos de seguro.
Com informações de Seu Dinheiro
