
Terras raras viram principal carta do Brasil contra tarifa de 50% dos EUA, diz gestor
As sobretaxas de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos estão programadas para começar a valer na próxima sexta-feira, 1º de agosto de 2025, caso não haja acordo de última hora com o governo de Donald Trump. Apesar dos esforços de Brasília, as conversas são consideradas difíceis, uma vez que a medida partiu de iniciativa política sem sustentação econômica.
Para Marcelo Nantes de Souza, head de renda variável da gestora ASA, o Brasil possui um argumento capaz de suavizar o embate: as terras raras. O país concentra 25% das reservas mundiais desses 17 elementos químicos, fundamentais para a fabricação de superímãs utilizados em carros elétricos, equipamentos eletrônicos e aplicações militares.
‘Bala de bronze’
Nantes classifica esse ativo estratégico como a “bala de bronze” brasileira. A “bala de prata”, segundo ele, pertence à China, que domina a extração e o refino desses minérios e já firmou entendimento com Washington. Quando Trump intensificou a guerra comercial, Pequim limitou a venda de sete terras raras e de superímãs, o que, de acordo com o consultor automotivo Michael Dunne em entrevista ao New York Times, poderia paralisar a produção de veículos nos EUA e ameaçar outros setores tecnológicos e militares.
“Os Estados Unidos ficaram sem alternativa e precisam de um outro fornecedor. Isso abre espaço para o Brasil negociar”, afirma o gestor. Contudo, ele lembra que, embora possua grandes jazidas, o país ainda não exporta terras raras por causa da capacidade limitada de refino.
Caminho da negociação
Nantes não acredita que a disputa seja resolvida até sexta-feira ou que a alíquota volte aos 10% definidos em abril. Para ele, a taxa pode permanecer provisoriamente acima desse patamar, mas há chance de cair para algo entre 15% e 20%. “Se ficarmos nesse intervalo, Trump vai dizer que subiu a tarifa e o governo brasileiro vai vender como vitória por ter reduzido o impacto”, comenta.
Na visão do gestor, uma tarifa de 50% praticamente interromperia as exportações brasileiras para os EUA, enquanto alíquotas menores manteriam parte do fluxo, como o do café. Mesmo no pior cenário, ele avalia que a maior parte das mercadorias, principalmente commodities como suco de laranja, carne e café, encontraria outros destinos.
Efeito na bolsa e posições da gestora
Entre janeiro e junho, o Ibovespa avançou 15%, impulsionado pela saída de capital estrangeiro dos EUA em meio às tensões tarifárias. Nas últimas semanas, entretanto, o movimento perdeu força com o acirramento da guerra comercial e as incertezas fiscais internas.
Imagem: seudinheiro.com
Nantes destaca que a trajetória de juros no Brasil será determinante para o mercado acionário. Caso a inflação siga contida, a atividade desacelere de forma moderada e o Federal Reserve comece a cortar juros, o ambiente para reduções da Selic melhorará.
Diante da possibilidade de arrefecimento da economia no segundo semestre, a ASA tem reduzido exposição a commodities e direcionado investimentos a setores menos dependentes do ciclo econômico. Entre as recomendações estão construtoras voltadas à baixa renda, como Direcional (DIRR3) e Cury (CURY3), além de Cyrela (CYRE3), que ampliou presença no programa Minha Casa Minha Vida. No segmento de logística, a gestora cita Rumo (RAIL3) e Ecorodovias (ECOR3) como oportunidades.
Para o gestor, o cenário eleitoral de 2026 permanece indefinido. O embate comercial elevou a popularidade do presidente Lula, mas o movimento apenas recolocou o cenário político em seu “ponto de equilíbrio”, avalia. A ASA, portanto, prefere manter foco na preparação para eventuais choques de atividade e juros.
Com informações de Seu Dinheiro
